Rahula Gupta

RAHULA

Rahula nasceu no Sul da Índia; as quatro divindades especiais, incluindo Vajra Yoguini, manifestamente o tutelaram e o abençoaram. Ele alcançou o corpo vajra imortal, viajou para o Tibet por meio de poderes miraculosos e, então, retornou à Índia, onde ele ainda vive e beneficia seres na floresta montanhosa chamada Montanha Negra. Rahula-gupta-vajra, poderoso mestre da prática contemplativa que alcançou a realização, deu essas instruções orais para meditação sobre o inconcebível:

Diante de todos os mestres espirituais eu me prosterno.
Suas realizações na prática concisa para o cultivo da experiência é a seguinte:
Meditação sobre as quatro incomensuráveis.
Vou explicar, agora, ensinamentos inconcebíveis.

Na natureza vazia da causa e efeito,
Forma é insubstancial, som não-dual,
E o resultado imperceptível surge sem esforços,
Como chuva sem trovão.

Portanto, praticante afortunado,
Entre na disciplina da natureza sem-self!

Miríades de aparências da existência
São insubstanciais, vazias e sem natureza própria.
Sua essência é pura.

Dentro dessa compaixão,
Budas e seres sencientes são não-dual.

Luminosidade natural, sem meditação, sem pensamento,
Além de centro ou limites, é o sentido do Caminho do Meio.
Medite na natureza da mente dessa forma.

Em relação aos seres que não realizaram isso,
Medite com compaixão sobre suas doenças e demônios.
Qualquer ser que esteja diante de você,
Acomode-se na estabilidade e medite sobre a equanimidade.
Meditando assim em todas as circunstâncias
Você realizará o sentido da não-dualidade.

A seguir estão as instruções de meditação da linhagem oral:
Medite na união de todos os corpos dos Budas
E na natureza da mente de todos os seres
Como sendo uma sílaba HUM branca
No seu coração e no de todos os seres, sobre um assento de sol.
Imagine como sendo uma gota de essência vital.
Pense que isso em si pacifica os seres
E purifica todos os obscurecimentos emocionais.

Esse é o sentido não-dual –
Divindades não possuem uma natureza intrínseca [separada disso].

Então, após ter meditado na compaixão,
Com amor inconcebível,
Para o benefício dos seres, pense da seguinte forma:

No seu coração, você, o praticante,
Imagine um lótus de oito pétalas do tamanho de uma ervilha.
Então, entre luzes radiantes branca e vermelha
Está o Deus Fogo, uma sílaba branca OM.
Não há nenhuma prática formal.
Não pense em absolutamente nada.

Qualquer um que medite nessa contemplação
Alcançará a sabedoria não-dual
Iluminação última, claridade sem [apego a] consciência.

Essa prática contemplativa sutil gera clarividência.
Você realizará o estado não-dual,
A natureza da alegria surgirá,
E você alcançará o resultado, a equanimidade.

Alguns permanecem na meditação das quatro divindades,
Outros confiam em recitações verbais.
Eles não conhecem a meditação não-dual.

Essas instruções orais conferidas para o benefício dos outros,
Vem de uma linhagem transmitida face-a-face
E agora tem sido ensinada por Rahula.

Rahula-gupta, que realizou a imortalidade, seguiu as orientações de seus mestres e deixou sua terra sublime da Índia. Ele viajou para o Tibet por meio de seus poderosos miraculosos chegou ao amanhecer em Penyul Jokpo, no local de retiro de erudito e realizado Kyungpo Naljor. Rahula fez alguns milagres e permaneceu por onze meses, durante os quais concedeu várias instruções, comuns e extraordinárias. No momento de retornar para a Índia, Lama Shangpa acompanhou-o até Mangyul, onde Rahula deu a seu discípulo essas instruções orais em versos vajra de seis sílabas:

A raiz do sofrimento
é o apego ao eu.

Renuncie imparcialmente ao ódio e ao desejo;
Permaneça no significado da equanimidade.

A vida é impermanente
Mas não termina com a morte, você irá renascer.
Seja vigilante em relação aos seus atos e suas conseqüências
E diligente na manutenção de seus votos tântricos.

A natureza imutável é interpenetração [de aparência e vacuidade]
Lembre-se sempre disso:
Seu corpo de arco-íris aparece
Entretanto, ele não tem natureza intrínseca.

O mestre-espiritual-Buda
Proporciona tudo aquilo que você deseja e necessita nessa vida
E o conduz nesse caminho para o próximo –
Lembre-se sempre dele.

Até alcançar estabilidade
Distrações agitadas correm soltas;
Como uma gazela ferida,
Medite sozinho.

Os seres sencientes nessa era de conflitos
Nutrem intenso orgulho e inveja,
Como uma lâmpada em um vaso,
Guarde suas qualidades em sua mente.

Tendo cantado isso, ele saiu voando e girando pelo céu e instantaneamente viajou para o Assento Vajra (em Bodhgaya, Índia], onde conduziu um festim vajra.


A Melodia das Jóias:

Uma súplica ao grande mestre realizado
Rahula-gupta-vajra, por Jamgon Kongtrul

O amontoado de maravilhosas e inumeráveis jóias em três coleções [letras, palavras e termos],
Produz vossas qualidades, a Montanha Massiva que se eleva alto no centro dos quatro continentes.
Venerável Rahula-gupta,
Vossa existência foi prevista por milhões de divindades sublimes, a vós eu oro.

Ao sul da Índia, na região de Élabhisha,
A terra especial de Vajra Dakini,
Vós nascestes como o mais puro gramado
Dentre a aristocracia da cidade de Bhiraji, a vós eu oro.

No vosso nascimento, luzes, melodias e fragrâncias agradáveis
Acompanhadas por emanações das quatro divindades manifestando formas de sabedoria.
Iniciastes vossa vida em meio a esses sinais virtuosos.
E vos tornastes conhecido como sendo um bodhisatva divino; a vós eu oro.

Até os vinte anos, treinastes nos ensinamentos sagrados.
Aos vinte e um, sofrestes a dor vinda de um espinho vajra.
O senhor da yoga e as quatro divindades vos abençoaram
Dizendo que essa doença exauriria vosso maior karma anterior,
E predisseram sua partida para os mundos celestiais nesta vida, a vós eu oro.

Enquanto jejuavas por cinco dias
Diante de uma [imagem] auto-manifesta de Tara, vossos pais o acorrentaram.
Vajra Yoguini libertou-vos, abençoou-vos
E vos deu uma profecia, a vós eu oro.

Como um leão, vós recebestes um templo tântrico
O treinamento básico completo da [ordem] do Shakyamuni.
Recebestes de muitos eruditos e mestres realizados,
o corpo integral dos discursos e tantras, a vós eu oro.

Quando meditastes no profundo sentido dos tantras,
Vosso mestre espiritual vos encorajou a engajar-se na conduta avadhuti,
Mas o orgulho fundado em vossos conhecimentos retardou [vosso progresso].
Posteriormente, vós praticastes de maneira concentrada,
Mas ainda sim não alcançastes a realização.
Então, seguistes os conselhos do [mestre] Guna-akara
E cortastes sua língua e seus membros com uma navalha.
Nesse momento, vistes as quatro divindades,
Que vos curaram, a vós eu oro.

A poderosa onisciente, Vara Yoguini,
Nobre Tara e o Rápido Protetor de Sabedoria
Ensinaram-vos sempre que desejastes
E outorgaram-vos vossas bênçãos e realizações; a vós eu oro.

Seguistes os conselhos de Jnana Sagara
E submergistes na água por sete dias.
Vermes sugaram vosso sangue e quase morrestes
Exaurindo completamente vossos obscurecimentos kármicos, a vós eu oro.

Encorajado pelos conselhos de praticantes realizados,
Viajastes para a região dos Himalayas por meio de seus poderes miraculosos.
Manifestando proezas maravilhosas, visitastes o erudito e realizado Kyungpo Neljor,
Começando pelas bênçãos das quatro divindades,
Vós outorgastes várias instruções profundas e meditações.
Inseristes alguns seres afortunados dentro de sua mandala [de iniciações]
E, então, partistes para a Terra do Exaltados.
Lá chegando instantaneamente; a vós eu oro.

No solo vajra do Sul perfeitamente estável,
Renunciastes às distrações e estabelecestes seu local de meditação.
Vós alcançastes a sublime realização do Mahamudra
E o estado de detentor da sabedoria imortal, a vós eu oro.

Na colina arborizada conhecida como Montanha Negra,
Permanecestes no corpo vajra de arco-íris.
Vós alcançastes o fim do treinamento,
Um mestre de realização maravilhoso e excelente; a vós eu oro.

Possa eu esgotar integralmente as impurezas dos dois obscurecimentos,
E possa o sol da sabedoria nascer em mim
Para vencer a escuridão da delusão momentânea ignorante.
Possa eu alcançar, nessa vida, o estado do detentor da consciência vajra.

(A Guirlanda de Flores Udumvara, pp. 7a-8a)