A Preciosa Guirlanda 01 – Cap. 1 As Dez Causas de Lamentação

NAMO RATNA GURU

A conduta perfeitamente pura é o ornamento dos Lamas da preciosa Linhagem Kagyüpa. São eles que liberam do oceano de terror, o Ciclo das existências, tão difícil de atravessar.

Tomo refúgio, prosternando-me diante dos Santos Lamas da imaculada Linhagem da Prática. Suas vastas aspirações perduram e realizam-se espontaneamente e as ondas de sua graça são inesgotáveis como o grande oceano.

Concedam-me sua graça!

Tendo mantido por muito tempo em minha mente as palavras originárias desses Lamas Kagyüpas, compus essa guirlanda preciosa do caminho supremo, essas instruções que me são caras e que destino aos afortunados ligados à mim: meus discípulos diretos e aqueles da Linhagem.

AS DEZ CAUSAS DE LAMENTAÇÃO – Capítulo 1

O texto

Aqueles indivíduos que aspirarem alcançar a liberação e a omnisciência da budeidade devem, desde o início, relembrar as dez causas de lamentação:

1. Engajar esse corpo humano puro, difícil de obter, em ações não virtuosas e negativas é lamentável.

2. Esse corpo humano puro, (dotado) das (8) liberdades e (10) aquisições, difícil de obter, deixá-lo perecer em ações mundanas em desconformidade com o dharma, é lamentável.

3. Nesta época degenerada, desperdiçar essa breve existência humana com atos insensatos, é lamentável.

4. Deixar a mente em si, cuja natureza é o dhamakaya livre de fabricações, afundar na lama das confusões do samsara é lamentável.

5. Deixar o santo lama, que guia ao longo do caminho antes de alcançar o despertar, é lamentável.

6. Deixar que esse barco, os votos e compromissos que permitem alcançar a liberação, sejam destruídos pelo poder das circunstâncias, paixões e da desatenção é lamentável.

7. A realização e a experiência alcançadas pela graça do lama, deixar esvaírem-se pela selva das ações mundanas é lamentável.

8. Vender as profundas instruções orais dos mestres realizados aos profanos, indignos de recebê-las, é lamentável.

9. Todos os seres sencientes, que foram nossos bondosos pais e mães, rejeitá-los e abandoná-los com uma mente hostil, é lamentável.

10. As três portas no desabrochar da juventude, deixá-las recair na indiferença ordinária, é lamentável.

Essas são as dez causas de lamentação

AS DEZ CAUSAS DE LAMENTAÇÃO – COMENTÁRIOS KHENPO KARTHAR RIMPOCHE

Gampopa diz que aqueles que quiserem obter a liberação, bem como o estado de onisciência ou a completa budeidade, devem se lembrar constantemente das dez causas de lamentação.

A primeira das dez causas de lamentação é a má-conduta. O ponto aqui é que a única causa possível para se experimentar uma existência humana, que é a base para a prática do Dharma, é manter uma conduta ética pura. Uma vez que raríssimos seres preservam, de alguma forma, uma conduta moral genuína, muito poucos alcançam uma existência humana. Em geral, as pessoas não praticam o que é virtuoso, mas se engajam naquilo que é nocivo – má-conduta. Até que se renuncie à má-conduta, a pessoa jamais alcançará a liberação do sofrimento ou mesmo livrar-se dos domínios inferiores de existência, o que dirá da omnisciência, e não terá qualquer habilidade para beneficiar os demais. Portanto, a primeira coisa a se lamentar é uma má-conduta.

A segunda causa de lamentação é desperdiçar a preciosa existência humana, dotada das oito liberdades e dez aquisições. De fato, é importante considerar que somente um ser dotado dessa preciosa existência humana, com essas dezoito características, dispõe das habilidades para a prática do Dharma. A primeira causa de lamentação envolve a conduta que impede um nascimento humano. Aqui, estamos preocupados nas ações que nos impedem de obter uma existência humana particular denominada “preciosa existência humana”, dotada das oito liberdades e dez aquisições.

A terceira causa de lamentação é a distração sem sentido e as ocupações sem sentido. A época em que vivemos é chamada “era decadente”. Dentre os aspectos dessa decadência está o fato de que nossa vitalidade é muito fraca. Existem poucos fatores que nos mantém vivos, mas muitos que nos conduzem à morte. Além disso, a morte pode ocorrer muito rapidamente e por um grande número de causas. Assim, é importante lembrar-se que não há tempo a perder. Portanto, a terceira causa de lamentação são as atividades de mera perda de tempo, ou seja, distrações.

A quarta causa de lamentação é o vício pela conceitualização e as aflições subsequentes. É dito que a verdadeira natureza da mente como ela é – a mente em si – é o dharmakaya. Todas as qualidades do dharmakaya estão espontaneamente presentes em nós. Elas são o que realmente somos. Entretanto, ao não reconhecermos isso, tendemos a seguir os pensamentos viciados que surgem na mente. Somos capturados pelas aflições mentais que eles produzem e isso o reconhecimento da mente.

A quinta causa de lamentação é a situação na qual rapidamente desenvolvemos um desgaste na relação de confiança pelo professor e na prática de suas instruções. É importante compreender que a única base possível, a partir da qual podemos alcançar a liberação do intenso sofrimento do samsara, é receber e praticar as instruções especiais dos nossos lamas. Desconsiderar o valor do receber e praticar tais instruções para engajar-se em vários tipos de atividades sem sentido é a quinta causa de lamentação.

A sexta causa de lamentação é a situação na qual o praticante danifica ou destrói qualquer um dos três votos. Em geral, diz-se que o único recipiente por meio do qual podemos cruzar o oceano de sofrimento samsárico e alcançar o domínio da grande felicidade, o domínio da liberação, o estado de budeidade, é o excelente vaso dos três tipos de votos ou compromissos. Eles são: 1) o voto exterior da liberação individual (voto pratimoksha); o voto interior (voto dobodhisatva), e 3) os votos vajrayana ou samaya. Permitir que esses três votos sejam danificados por meio de intensas aflições mentais (klesha) ou mero descuido é causa de lamentação.

A sétima causa de lamentação é descontinuar a prática após ter alcançado uma pequena realização por meio da confiança num amigo espiritual ou guru. Tendo alcançado alguma realização, você pode tornar-se facilmente distraído por atividades mundanas, abandonando as instruções e a prática e, assim, impedindo um desenvolvimento maior da experiência e realização.

A oitava causa de lamentação é a situação na qual não tendo uma realização genuína, mas tendo ouvido uma grande quantidade de ensinamentos profundos dos siddhas da linhagem, você repete suas instruções a muitas pessoas visando atrair estudantes e tornar-se rico, popular e poderoso. Você engana muitas pessoas fingindo ter realização. Essa é a oitava causa de lamentação.

A nona causa de lamentação é a atividade que prejudica outros seres sencientes. Isso deve ser evitado, uma vez que todos os seres sencientes têm sido nossos pais e, enquanto nossos pais, têm sido extremamente bondosos conosco. Outra razão é que a bodhicitta altruística é a espinha dorsal do caminho para a liberação. Portanto, é necessário abrir mão de toda a conduta rancorosa e especialmente aquelas que verdadeiramente prejudicam os outros. É importante lembrar que a geração e aplicação da bodhicitta dependem inteiramente da interação com os demais seres sencientes. Portanto, é necessário ter todos os seres sencientes como objetos de compaixão e realmente gerar compaixão por esses seres.

A décima causa de lamentação é a procrastinação, e o que se perde é o corpo, palavra e mente – as três portas. Especialmente quando se é jovem, com o corpo é forte, a mente clara e a palavra flexível, você não se engaja na prática do Dharma porque se sente impelido às atividades mundanas. Enquanto faz isso, você pensa, “Eu vou praticar o Dharma quando for mais velho, quando as coisas se acalmarem um pouco”. Então, não praticando quando se é jovem, você vê que quando fica mais velho não pode praticar porque não tem o hábito de fazê-lo. Você já não é mais tão forte como antes, é mais difícil aprender as coisas e daí por diante. Esse tipo de procrastinação é definitivamente causa de lamentação.

Essas são as dez causas de lamentação.