A Preciosa Guirlanda 05 – Cap 4 As Dez Coisas A Serem Abandonadas

Essas são as dez coisas a serem abandonadas:

1. Abandonar os Mestres cujas ações misturam-se com os oito dharmas mundanos.

2. Abandonar o séquito e as más companhias prejudiciais à mente e a experiência.

3. Abandonar lugares e eremitérios de grande distração e prejudiciais (a prática).

4. Abandonar o sustento obtido por meio furto, roubo, fraude e ocultação.

5. Abandonar ações e atividades prejudiciais à mente e a experiência.

6. Abandonar a comida e a conduta que prejudiquem a sua base.

7. Abandonar o desejo e o apego que prendem à avareza e à busca pelo prazer.

8. Abandonar a conduta desatenta que acarreta a perda de fé pelos outros.

9. Abandonar as ações de idas e vindas sem sentido.

10. Abandonar (a atitude) de esconder os próprios defeitos e revelar os dos outros.

AS DEZ COISAS A SEREM ABANDONADAS – COMENTÁRIOS DE KHENPO KARTHAR RIMPOCHE:

primeira delas é um professor ou um mestre cujas ações estão todas misturadas com os oito dharmas profanos. Embora esses professores possam dar explicações muito profundas e terem muito conhecimento, todos eles estão preocupados e todos eles dirigem suas ações para a aquisição de bens para si próprios e seus seguidores, recebendo elogios, bajulações e ficando famosos. Eles estão muito preocupados com a perda de seus bens pessoais, evitando qualquer forma de crítica, e situações que as pessoas não vão adulá-los. Eles têm muito medo em terem uma má reputação. Embora eles pareçam bem e falem bem, e tenham informações de muitos aspectos do Dharma, não tem realização e não são professores genuínos. Pelo que devem ser abandonados.

segunda coisa que deve ser abandonada é o “séquito” e companheiros que prejudicam o seu estado mental e a sua prática. “Seguidores” são os estudantes, caso você seja um professor, e se você está numa posição de autoridade, aqueles sob sua autoridade espiritual ou mundana. Companheiros significam amigos, pessoas com quem você vive, família, e assim por diante. É importante ficar longe de pessoas que representem obstáculos a sua prática e gerem aflição mental, pois não são uteis. Há um ditado tradicional na linhagem Kagyu, “Fique longe do seu local de nascimento”. Isto é porque no local de nascimento normalmente há pessoas a quem você está apegado e pessoas a quem você tem grande aversão. Por esta razão os iogues têm tendência a vaguear, ir para lugares onde as pessoas não os conheçam. Por que as pessoas não os conhecem, há poucas interrupções em suas práticas. Você pode pensar que é necessário continuar associado às pessoas a que você tem apego, mas não é esse o caso. Você não pode realmente ajudá-las, pois se elas prejudicam sua prática, elas estão se prejudicando e a você também. No final, você acaba prejudicando a elas e a si próprio.

terceira coisa que deve ser abandonada são os lugares nos quais há muitas distrações ou perigos. Mesmo que você tenha abandonado seu lugar de nascimento, se você for para um local onde haja um monte de coisas mundanas que você pode fazer em vez de praticar, onde há muitas experiências desejáveis que você pudesse ter do que a prática, isto será um obstáculo para a prática. Na verdade, isto não é melhor do que estar em seu local de nascimento. Por outro lado, mesmo que você esteja em um local solitário, este pode ser um local onde haja o perigo de não obter alimento e água saudáveis, ou o perigo de grandes animais carnívoros ou pequenos animais venenosos. Num local onde há perigo para a vida ou saúde você não será capaz de praticar por causa do medo e ansiedade. Esse medo vai impedir que relaxe e, sem uma mente relaxada, a prática não progredirá.

quarta coisa que deve ser abandonada é a subsistência que vem com o roubo, fraude, trapaça e desonestidade. Furto se refere a surrupiar algo de forma escondida. Roubo se refere a obter algo através da força. Fraude se refere a fingir qualidades que não tem, isto é, fazer que alguém lhe dê algo como presente, fingindo ser digno da oferenda. Ocultação se refere a esconder defeitos que você tem, a fim de obter apoio. Estas quatro maneiras impróprias de obter alimento e outras condições necessárias para viver como um praticante devem ser abandonadas. Da mesma maneira, é preciso abandonar toda forma de subsistência que vem de atividades impróprias por parte de outros. Mesmo que uma pessoa te dê algo sem nenhuma atitude errada de sua parte, se ela roubou ou obteve isto por um delito e você sabe disto, então você não deve aceitar; você não deve participar disto. O que deve ser pedido são alimento e apoio sem transgressão, de forma honesta e direta. Quando se está praticando o Dharma, é apropriado receber de terceiros presentes, oferendas, alimentos, ou o que você precisar para viver, desde que estejam dispostos a dar. Até pedir esmolas é apropriado, mas é preciso ser honesto e direto sobre o que se está fazendo. Se não tem comida, pode dizer “Não tenho comida. Você pode me dar alguma?” e se quiserem te darão; mas não deve ser um engano.

quinta coisa que deve ser abandonada é o trabalho e atividade que prejudicam nosso estado mental e nossa prática. É conveniente estar engajado em trabalhos e atividades meritórias, como a construção, reforma, ou fazer oferendas para monastérios, imagens de Buda etc.. A atividade física relacionada com méritos é boa, porque beneficia a mente em longo prazo. Mas a atividade sem sentido que nos distrai e arrasta a mente para baixo devem ser evitadas.

sexta coisa que deve ser abandonada é alimento, conduta e atividade que são prejudiciais para a nossa saúde. Nossos corpos físicos possuem as oito liberdades e as dez resoluções extremamente preciosas. Elas são as bases pra a nossa existência humana. Podemos prolongar nossas vidas o máximo que pudermos. Então devemos fazer uso dessa oportunidade para praticar o Dharma. Por isso é importante evitar alimentos e atividades que possam causar doença ou colocar-nos em perigo de morte prematura.

sétima coisa que deve ser abandonada é fixação e apego a objetos de desejo ou situações que nos prendem a nossa própria ganância. Isto significa estar apegado a aquisição e proteção de bens, diversões, riqueza, fama etc.. Ambos incluem o sentimento de que precisamos destas coisas e a ansiedade que sentimos do perigo da perda, porque ambas são fixações nestas coisas e as experiências associadas com elas. Nossa fixação nestas condições significa que não somente suas presenças não ajudam no crescimento de nossas qualidades, mas irá provocar a diminuição delas no decorrer do tempo. Por esta razão é importante evitar lugares e pessoas a quem estamos indevidamente apegadas ou indevidamente fixadas.

oitava coisa que deve ser abandonada é a conduta descuidada que é a causa de outras pessoas não terem fé no Dharma. Isto não significa atividades que são diretamente prejudiciais para os outros, que já foram discutidas anteriormente. Quer dizer a situação na qual o praticante tem uma experiência real, ou mesmo alguma realização no significado do Dharma, e portanto tem pouca ansiedade sobre o que a outra pessoa pode pensar dele. Eles são inclinados a agir de maneira estranha. Mas não é apropriado para os praticantes exibirem suas realizações de alguma forma, porque outras pessoas, caso estejam envolvidas no Dharma ou não, verão estas ações como defeitos. Eles não pensarão, “Esta pessoa age estranhamente; deve ter realização.” Elas pensarão, “Mesmo os mais sérios praticantes do Dharma, pessoas que supomos que têm realização, parecem ter defeitos pessoais.”, e isto fará que desprezem não apenas o praticante, mas também ao Dharma. Isto leva outros seres sencientes a acumular o karma negativo extremamente prejudicial de abandonar e injuriar o Dharma. Portanto é importante, não importa quão alta seja sua experiência e realização, ter uma conduta simples, disciplinada e correta.

nona coisa que deve ser abandonada é atividades que não são benéficas para nós e outros, como running around e sitting around. Isto significa abandonar viagens sem propósito – por exemplo, visitar um grande oceano ou uma alta montanha somente para fins turísticos. Estas coisas são uma perda de tempo, e você não tem tempo a perder. Assim, se você percebe que uma atividade ou ação específica não tem um beneficio verdadeiro para você ou qualquer outra pessoa, você deve evitar isso.

décima e última coisa que deve ser abandonada é ocultar seus próprios defeitos e proclamar e divulgar os defeitos dos outros. É importante não tentar ocultar nossos próprios defeitos através da discrição, e não se focar nos defeitos dos outros, fazendo-os claros para os outros. Devemos sempre aspirar beneficiar os outros o máximo que pudermos e devemos nos comportar de acordo com essa aspiração. Nosso objetivo é sermos capazes de eliminar nossos defeitos, não escondê-los, e ajudar outros a eliminar seus defeitos, não expô-los. Não devemos nos tornar arrogantes. A base da arrogância, o modo de mantê-la e a causa do seu surgimento, é ocultar nossos próprios defeitos e expor o dos outros. A diferença entre o praticante genuíno do Dharma e uma pessoa mundana é que, pelo modo mundano, ocultamos nossos próprios defeitos e divulgamos o dos outros; já  no caminho do Dharma, ocultamos os defeitos dos outros e expomos os nossos.

Estas são as dez coisas que devem ser abandonadas.