A Preciosa Guirlanda 11 – Cap 10 Os Dez Riscos

Esses são os dez riscos:

1. Se você tem pouca confiança e muito conhecimento, isso é o risco para se tornar um falador.

2. Se você tem muita confiança e pouco conhecimento, isso é o risco de esforço inútil.

3. Se você tiver muita energia e poucas instruções, isso é o risco de defeitos e erros.

4. Se você não eliminou previamente seus equívocos através da escuta e da contemplação, isso é o risco da meditação sobre a escuridão mental.

5. Se uma nova instrução não é colocada em prática, isso é o risco de se tornar um estudioso do Dharma fatigado.

6. Se sua mente não estiver treinada no método – grande compaixão – isso é o risco para o caminho do veiculo menor.

7. Se sua mente não estiver treinada no conhecimento – vacuidade – isso é o risco no caminho do samsara.

8. Se os oito dharmas mundanos não são superados, isso é o risco de que qualquer coisa que você faça se torne um ornamento mundano.

9. Se aldeões tem muita confiança e interesse em você, isso é o risco de ter que agradar pessoas comuns.

10. Se você tem grandes qualidades e poder, mas uma mente instável, isso é o risco de se tornar um artista de rituais da vila.

Esses são os dez desvios.

OS DEZ DESVIOS – COMENTÁRIOS DE KHENPO KARTHAR RIMPOCHE:

Em seguida, estão os dez desvios.

O primeiro deles é que, se você tem pouca confiança, mas é muito intelectual, arrisca-se a se tornar um grande falador. Se entender o Dharma intelectualmente, mas não tiver muita fé, você não vai praticá-lo realmente, e, consequentemente, o seu entendimento se tornará um mero aglomerado de palavras.

O segundo risco é que se, por outro lado, você tiver uma grande quantidade de fé, mas não tiver muita compreensão, então vai se arriscar a conceber tudo de forma literal e, assim, avançar cegamente, ou esforçar-se com intensidade sem saber o que está fazendo. Isto significa que você não terá nenhum reconhecimento do significado do que está praticando, e, assim, não será realmente capaz de atingir a liberação que a prática poderia proporcionar.

Em terceiro lugar, se tiver muita energia, mas lhe faltarem instruções, corre o risco de fazer as práticas com defeitos e erros. Você pode ser muito diligente na sua prática, mas não receber instruções de professores qualificados, que incluem conselhos como: “quando isto é feito, isso pode acontecer, e se aquilo acontecer, então você deve fazer tal coisa; se esta experiência surge, então não se preocupe, só significa que você deve proceder de maneira tal”, e assim por diante. Se não tiver tais instruções, vai ser enganado por suas próprias experiências, e desviar-se para o engano e a ruína.

Em quarto lugar, se você previamente não cortar os equívocos através do estudo e análise, ou escuta e contemplação, consequentemente a prática de meditação será simplesmente o cultivo do estado de escuridão mental ou estupidez. Isto seria como apenas estar sentado e tentando não pensar, apenas se fechando e se isolando.

Em quinto lugar, se você não colocar imediatamente em prática o seu entendimento do Dharma, vai se tornar um estudioso fatigado. Quando você chegar a um entendimento de algo ou receber algumas instruções práticas, se não as utilizar imediatamente, o desejo de usá-las se torna cada vez menor ao longo do tempo. Você se torna mais e mais cansado e começa a pensar menos e menos no valor do Dharma e das instruções que recebeu. Você continua a receber mais e mais instruções e adquirindo mais e mais conhecimento ou informação, mas permanece apenas como informação, e tem cada vez menos vontade de praticar. Por outro lado, se imediatamente põe em prática as instruções que recebe, o seu desejo de praticá-las aumenta. Quanto mais prática você fizer, mais o seu respeito pelas instruções e a compreensão do seu verdadeiro valor irá aumentar.

Sexto, se você não treinar no aspecto do método, cultivando a compaixão, então, ao se preocupar apenas com seu próprio benefício e com sua própria libertação, há o risco de se desviar para o veículo menor. Isto significa que se não gerar uma intenção pura por ter compaixão e genuíno interesse em benefício dos outros, não importa que prática esteja fazendo, ela ainda será do veículo inferior, uma vez que é a motivação que as distingue. Mesmo que se esteja praticando o mantra secreto, que é certamente o veículo maior, fazendo pujas, visualizando divindades, recitando mantras, e assim por diante, se não tem compaixão, então não é realmente o mantra secreto. Essa situação se parece um pouco com a de alguém que tem uma arma muito poderosa que poderia disparar uma bala com muita precisão a longa distância, mas dispara apontando para o chão. Assim, é essencial ter o compromisso e compreender a importância de enfatizar o benefício de outras pessoas na sua motivação para a prática.

Em sétimo lugar, se não treinar sua mente no aspecto do conhecimento, que é a compreensão correta da vacuidade, o que quer você pratique será simplesmente o cultivo de mais samsara. Se não chegar a um entendimento da vacuidade, então o que você fizer terá a marca do apego e uma crença persistente em sua própria existência inerente como sua motivação básica ou ponto de partida. Com isso como base, não importa o que você pratique, se é o mantra secreto mais profundo ou qualquer outra coisa, isso só vai aumentar o cultivo do ego.

Em oitavo lugar, se você não transcender ou derrotar os oito dharmas mundanos, qualquer prática será apenas um ornamento mundano. Se a motivação para a sua prática é o desejo de adquirir bens, fama, respeito e serviço, e o medo que estes possam diminuir, então a prática do Dharma irá conduzir a uma ligeira obtenção de tais coisas, tal como um belo ornamento sem significado, que não leva a nada.

Em nono lugar, se as pessoas em aldeias ficam muito interessadas e tem muita fé em você, pode se desviar e tornar-se alguém que só atende aos desejos das outras pessoas. Este ponto é expresso em termos de uma situação que pode surgir no Tibete: se você é um praticante e deixar moradores ter muita fé e interesse em você, só vai se tornar um escravo da popularidade. Isto significa que se você atender demasiadamente as solicitações de outras pessoas, é onde sua mente estará, e sua prática vai degenerar em simplesmente tentar agradá-los.

Em décimo lugar, se tiver gerado algumas qualidades e poderes pessoais através de sua prática, mas a sua mente não se estabilizou – ter adquirido algumas qualidades em sua prática, mas não as ter estabilizado ou maturado, permitindo permanecer na solidão, concentrando-se em apenas praticar, – então pode se tornar alguém que vagueia em torno das aldeias fazendo pequenos pujas para agradar as pessoas e adquirir oferendas.

Estes são os dez tipos de desvios.