A Preciosa Guirlanda 15 – Cap 14 As dezoito faltas interiores de um praticante do Dharma

As dezoito faltas interiores de um praticante do Dharma:

  1. Retirar-se na solidão, mas permanecer preocupado com as coisas mundanas é uma falta para um praticante do Dharma.
  2. Guiar uma comunidade, mas preocupar-se com os seus próprios interesses é uma falta para um praticante do Dharma.
  3. Sendo versado nos ensinamentos do Dharma e não se abster de cometer atos nocivos é uma falta para um praticante do Dharma.
  4. Ter recebido importante instruções liberadoras e deixar, contudo, seu ser no estado ordinário é uma falta para um praticante do Dharma.
  5. Embora manifestando uma conduta ética pura, conservar grandes desejos é uma falta para um praticante do Dharma.
  6. Embora tendo obtido uma boa realização, conservar a mente indisciplinada é uma falta para o praticante do Dharma.
  7. Tendo entrado na Via do Dharma, não abandonar o apego e a aversão das atividades mundanas é uma falta para um praticante do Dharma.
  8. Abandonar as atividades mundanas para cultivar a prática do Dharma, mas depois retornar às atividades deste mundo é uma falta para um praticante do Dharma.
  9. Ter compreendido o sentido de um ensinamento e não colocá-lo em prática é uma falta para o praticante do Dharma.
  10. Ter feito a promessa de praticar e não cumpri-la é uma falta para um praticante do Dharma.
  11. Dedicar-se plenamente à prática do Dharma e, mesmo assim, não melhor a sua conduta é uma falta para um praticante do Dharma.
  12. Embora dispondo de alimentos e roupas em quantidade suficiente, preocupar-se ainda com isso é uma falta para um praticante do Dharma.
  13. Despender o poder decorrente de suas práticas virtuosas curarando doentes ou evitando “si”, é uma falta para um praticante do Dharma.
  14. Ensinar ensinamentos profundos em troca de alimento ou riqueza é uma falta para um praticante do Dharma.
  15. Vangloriar indiretamente a si mesmo e denegrir os outros é uma falta para um praticante do Dharma.
  16. Dar aos outros instruções enquanto se está em desacordo com o Dharma é uma falta para um praticante do Dharma.
  17. Não conseguir permanecer na solidão e também não saber como permanecer na presença dos outros é uma falta para um praticante do Dharma.
  18. Não saber resistir ao bem-estar nem resistir ao sofrimento é uma falta para um praticante do Dharma.

As Dezoito Faltas Interiores de um Praticante do Dharma – Comentários de Khenpo Karthar Rinpoche

A próxima categoria é as dezoito faltas interiores dos praticantes. Faltas interiores aqui significam ações ou características que não estão de acordo com o objetivo de uma pessoa, neste caso o praticante. Por exemplo, se alguém é reconhecido como um estudioso, mas é analfabeto, ou se alguém é conhecido por ser bonito, mas não tem nariz, esta é uma discordância entre o nome e a realidade. Assim se alguém é reconhecido como um praticante, mas não pratica, esta é uma discordância entre o nome e a realidade.

A primeira destas faltas interiores é viver solitariamente e ainda assim apenas buscar sucesso nesta vida. O propósito de viver solitariamente é direcionar todos os seus esforços para a realização da liberação e onisciência. Se em vez disso, enquanto vive solitário, você direciona todo seu esforço para a realização de riqueza, fama, trabalho e conforto, então isto é uma falta interior do praticante.

Segundo, ser o líder de uma comunidade, como um monastério ou algum tipo de organização do Dharma, e ainda não cuidar dela e não ter como alvo sua preservação, mas trabalhar só para alcançar o que parece pessoalmente benéfico para você, é uma falta interior dos praticantes do Dharma.

Terceiro, ser versado no Dharma, mas não evitar atos nocivos é uma falta interior dos praticantes do Dharma. Ter o aprendizado que vem de ouvir e contemplar, mas não colocar isso em prática, evitando atividades que prejudicam os outros, é uma contradição do aprendizado e do comportamento e, portanto, uma falta interior dos praticantes.

Quarto, é uma falta interior do praticante possuir uma grande quantidade de instruções, mas permitir que seu contínuo mental permaneça em estado ordinário. Isso significa ter recebido, compreendido, e possivelmente memorizado uma grande variedade de instruções, mas sua mente permanece indomada por meio da prática.

Quinto, é uma falta interior dos praticantes, ser nobre em sua disciplina física, mas ter a mente sob o poder do desejo. Isto significa na verdade não domar a mente internamente e observar uma disciplina moral/ética externa ou fisicamente.

Sexto, é uma falta interior do praticante ter uma variedade de experiências excelentes ou intensas na meditação, mas ainda não ter dominado as aflições mentais.

Sétimo, é uma falta interior do praticante ter atravessado a porta do Dharma, mas não estar livre do apego e da aversão que afetam uma pessoa não treinada/não-praticante. Isso significa embarcar na prática do Dharma, não tendo abandonado ainda o ciúme, a ganância e a mesquinhez.

Oitavo, é uma falta interior do praticante abandonar as atividades mundanas e entrar na prática total do Dharma, mas depois, pouco a pouco, voltar involuntariamente para a agricultura, que significa voltar às atividades mundanas que foram abandonadas. Quando as pessoas renunciam ao mundo, se sua renuncia não é completa, o que por vezes acontece é que, no início, serão  renunciantes puros e praticantes do Dharma, mas a seguir, quando se tornam mais velhas, começarão a rastejar para as suas atividades antigas.

Nono, entender o significado do Dharma e não praticar  é uma falta interior do praticante.

Décimo, assumir um grande compromisso por um período de prática e então não mantê-lo é uma falta interior do praticante do Dharma. Por exemplo, dizer na presença de seu mestre, “eu ficarei em retiro por três anos”, ou cinco anos ou o que seja, e depois não ser capaz de fazê-lo, é uma falta interior.

Décimo primeiro, não fazer nada além do Dharma e mesmo assim não aprimorar sua conduta é uma falta interior. Isto se refere a estar numa situação como um retiro, onde não há absolutamente nada para fazer além da prática, e ainda estar preocupado com comida, roupas e coisas do tipo.

Décimo segundo, uma vez que, quando praticamos o Dharma, alimentos e roupas surgirão naturalmente pelas bênçãos das Três Jóias  e pelo poder de nossa prática, nesse sentido, é uma falta interior para um praticante preocupar-se demasiado de onde virão essas coisas. Isto quer dizer que não deveríamos ter pensamentos como, “O que comerei amanhã? O que vestirei?”

Décimo terceiro, dedicar todo o pequeno poder e mérito obtido a partir da prática para proteger magicamente os outros de doenças e de “si” é uma falta interior do praticante. Quando uma família tem um filho que morre, há uma preocupação por parte dos pais que a próxima criança venha a morrer também. Isto é chamado de “si” em tibetano. Pessoas nesta situação podem pedir por algum tipo de benção para evitar que isto aconteça. Dedicar sua prática para esses benefícios temporários e perder de vista o objetivo final, que é domar suas próprias aflições mentais e desenvolver a capacidade de domar as aflições mentais dos outros e, por fim, estabelecê-los todos no estado de Buda, é uma falta interior do praticante. Isto não é dizer que é impróprio ajudar as pessoas se você tem a capacidade genuína de fazê-lo. O que é apontado como defeito aqui é fazer estas coisas para que as pessoas digam que você tem muito poder mágico e é muito digno de respeito – em outras palavras, fazer isto para adquirir uma reputação ou seguidores.

Décimo quarto, transmitir ensinamentos profundos para obter alimentos e riqueza é uma falta interna do praticante. Ensinar indiscriminadamente tudo o que você sabe, quaisquer textos que você estudou, e todas as práticas que você pode explicar, simplesmente para obter posição e riqueza, e assim por diante, é uma falta. Atualmente isto ocorre muito; na verdade, isso é o que todos nós fazemos.

Décimo quinto, é uma falta dos praticantes se elogiar e louvar indiretamente suas capacidades, e criticar ou injuriar os outros. Por exemplo, você pode dizer, “Sou um simples professor. Não tenho muitas qualidades, mas minha linhagem é muito, muito profunda e tem grandes bênçãos que são totalmente inquebrantáveis. Meus mestres são assim e assim, isso e aquilo, e são muito poderosos.” Então você contaria histórias destes mestres que os tornam muito interessantes e impressionantes, e continuaria com, “Apesar de eu ser completamente simples, as instruções que tenho são de grande profundidade”. Então, falando de outros mestres, você diria. “Eles têm qualidades extraordinárias; eles são muito sábios e realizados. No entanto, sua linhagem é um pouco engraçada. Certa vez isso e isso aconteceu, e então um destes mestres fez isso e isso.” Falando desta forma, embora pareça que estamos nos colocando por baixo e valorizando os outros, de fato estamos fazendo o oposto, e isto é uma falta interior dos praticantes.

Décimo sexto, apresentar aos outros as instruções recebidas, mas permitir que seu contínuo mental permaneça imaturo e em desacordo com o Dharma, é uma falta dos praticantes. Como foi dito antes, pessoas que recebem instruções podem se tornar como ecos – algo como: o que quer que vá, volta novamente – mas nada está realmente acontecendo. Nesta situação, quaisquer instruções que você receba, embora você entenda seu significado , você passa adiante sem praticá-las. Alguém assim não desenvolve as qualidades que atribuímos ao nome “praticante”.

Um praticante do Dharma é alguém que, tendo recebido as instruções, pratica-as para que ele ou ela mude. As aflições mentais começam a diminuir, e a compaixão e a bondade aumentam. Isto é o que significa ser uma pessoa do Dharma. Alguém que apenas entende as coisas e as repassa não é realmente um praticante do Dharma, porque ele ou ela não tem as qualidades que podemos atribuir a esse nome.

A décima sétima falta do praticante é não conseguir permanecer solitário, e ainda ser incapaz de conviver com outras pessoas quando você vive com elas. Isto é o oposto de uma das dez coisas sem erro descrita anteriormente, quando foi dito que você deve ser capaz de permanecer em retiro solitário e também, quando apropriado, conviver harmoniosamente no meio de uma comunidade de praticantes. Neste caso, apesar de ter prometido praticar em retiro, quando você está no retiro você não consegue praticar porque está preocupado por não ter uma determinada quantidade de comida ou roupa que pensa precisar, e você está com medo de estar muito quente ou muito frio ou coisas assim. Então, quando você não está em retiro mas está com outras pessoas, você está constantemente discutindo com elas e brigando por coisas insignificantes, de modo que você não pode se dar bem com ninguém. Alguém assim não é um verdadeiro praticante.

Finalmente, é uma falta interior do praticante ser incapaz de resistir ao bem-estar ou ao sofrimento. Se você se entrega totalmente às circunstâncias agradáveis ou condições confortáveis então você perde sua mente para esse prazer ou esse conforto e,  paralelamente, quando alguma circunstância exterior faz com que você se sinta um pouco desconfortável ou é desagradável você é imediatamente lançado num poço de depressão, então você não é um verdadeiro praticante.

Estas são as dezoito faltas interiores dos praticantes.