A Preciosa Guirlanda 19 – Cap 18 As dez coisas pelas quais se causa a própria infelicidade (Parte 1)
- Estabelecendo um lar sem ter os meios de subsistência, semelhante ao idiota que toma veneno, causa-se a própria infelicidade.
- Se, esquecido do Dharma, cometem-se atos nocivos, tal como o louco que se precipita num abismo, causa-se a própria infelicidade.
- Enganando o próximo, causa-se a própria infelicidade como se sentasse para um festim envenenado.
- O desmiolado que tenta guiar um grande número de pessoas causa a própria infelicidade, como uma velha cuidando do rebanho.
- Se, sem desenvolver a nobre preocupação com o bem alheio, pleno de tendências profanas, esforça-se em obter uma felicidade egoísta, é como uma pessoa vagando pelas estepes do Norte e causa-se a própria infelicidade.
- Ao empreender tarefas irrealizáveis causa-se a própria infelicidade como uma pessoa fraca tentando carregar um fardo pesado demais.
- Desconsiderar com orgulho o Santo Lama e os ensinamentos do Vitorioso é como o poderoso que negligencia os conselhos de seus conselheiros e causa a própria infelicidade.
- Demorando-se nas cidades e postergando, por interesse pelas atividades mundanas, a prática do Dharma, causa-se a própria infelicidade, como o animal selvagem que desce aos vales (arriscando ser perseguido e morto).
- Se, negligenciando a preservação do conhecimento primordial da mente, deixa-se levar pelo espetáculo do mundo condicionado, causa-se a própria infelicidade.
- Ao utilizar indevidamente as oferendas feitas ao Lama e às Três (Joias) Raras e Sublimes, causa-se a própria infelicidade, como a criança que leva brasa à boca.
As dez coisas que causam a própria infelicidade – Comentários de Khenpo Karthar Rinpoche
A seguir estão as dez coisas pelas quais se causa a própria infelicidade. A primeira delas é quando um praticante de Dharma solteiro casa-se e então descobre que não há oportunidade para praticar por causa das responsabilidades que vem com isso, como criar filho e assim por diante. Tal situação de vida, em vez de ser um apoio para a prática, torna-se um obstáculo para a prática do Dharma e uma fonte de renascimento nos reinos inferiores. Isto é similar a uma pessoa tola comendo um forte veneno porque ele ou ela gosta da cor ou do aroma dele.
A segunda situação pela qual se causa a própria infelicidade é quando alguém obteve a existência humana com a oportunidade de praticar o Dharma, e então não pratica mas se empenha em transgressões. É como uma pessoa insana saltando de um penhasco. Insanidade aqui é uma metáfora para a situação de não praticar o Dharma quando você tem a oportunidade de fazê-lo, e saltando de um penhasco é uma metáfora para se ocupar em transgressões.
A terceira coisa pela qual se causa a própria infelicidade é violar seus votos e samaya, e então sabendo disso se torna um charlatão que engana outros e finge ser um professor genuíno. É como comer comida envenenada, que pode aliviar a fome temporariamente, mas também causa a morte. Da mesma forma, você pode enganar outros, pensando que a curto prazo isto será de grande ajuda, mas a longo prazo, você somente causará sua própria infelicidade.
A quarta situação é para alguém de pouca inteligência se tornar o diretor de uma comunidade monástica ou secular. É como forçar uma pessoa muito velha que mal pode se mover a cuidar do rebanho. Esta situação refere-se a alguém sem a habilidade de dirigir uma organização ou comunidade de forma benéfica e habilidosa.
A quinta coisa pela qual se causa a própria infelicidade é não ser diligente em realizar benefício para outros através de uma excelente motivação, mas em vez disso, esforçar-se na realização de seus próprios objetivos pela motivação das oitos coisas do mundo – desejo por elogio e ganho e assim por diante. É como uma pessoa cega vagando em um lugar selvagem ou num vasto deserto. Não se empenhando naquilo que beneficia outros com uma boa motivação, você não tem oportunidade de acumular mérito. Sabendo disso, se engajando naquilo que pareceria beneficiar você mesmo com ganho, vantagem, elogio e assim por diante como sua motivação, você não realizará nenhum benefício para si você mesmo nesta vida, e você acumulará a causa para enorme sofrimento em vidas futuras. De forma similar, uma pessoa cega que é colocada no meio do deserto ou de um local selvagem não tem como encontrar seu destino.
Sexto, ao assumir um grande e difícil esforço o qual você não tem como realizar, e se comprometer com isso, é causa de sua própria infelicidade. É como uma pessoa muito fraca tentando carregar um fardo muito pesado.
Sétimo, desconsiderar com arrogância as instruções ou conselho de um professor autêntico e as instruções registradas e recomendações do Buda é causar a própria infelicidade. É como um poderoso líder não escutando seus sábios conselheiros. Como uma ilustração disso, há um longo tempo atrás havia um monastério em especial no Tibete oriental, em Kham. Na mesma região do monastério havia um poderoso nobre que não estava particularmente associado com o monastério de nenhuma forma. Ele estava tendo uma disputa com o governo imperial chinês e eles estavam se preparando para invadir seu território. O monastério era bastante poderoso na região, então esse lorde suplicou para seus líderes e disse, “Você me apoiará na minha contenda com o governo imperial?”. O conselho monástico discutiu este pedido, e a maioria dos membros disseram, “Não, nós não devemos nos envolver nessa briga. Não é da nossa conta.” Mas um poderoso e franco membro do conselho monástico disse, “ Nós devemos ajudar esse nobre porque se ele vencer ele ficará em débito conosco. Nós poderemos espalhar nossa influência no território dele e ele ficará submetido a nós.” Ele era tão forte em seu argumento que eles ficaram seduzidos por eles e apoiaram o nobre. Conforme aconteceu, os Chineses venceram, e eles destruíram não só o território do nobre mas o monastério também, porque o monastério o apoiou. Essa é uma ilustração de tempos atrás desse tipo de situação.
A oitava forma de causar sua própria infelicidade é se, tendo estudado e contemplado o Dharma, você não o pratica, mas ao invés procrastina e vagueia entre as habitações das pessoas. É como um animal selvagem que não permanece nas montanhas onde é seguro, mas vagueia em regiões de humanos e, portanto, será morto.
Nona, tendo recebido do seu professor uma introdução ou sido apontado acerca do conhecimento natural, não nutrir isso pela prática, mas ser desviado pela elaboração de distração, é causar sua própria infelicidade. É como ser um pássaro com uma asa quebrada. Assim como um pássaro com uma asa quebrada ainda possui asas, você ainda terá recebido a introdução, o apontamento, mas o poder disso terá sido quebrado pelo seu próprio envolvimento em distração.
Décimo, consumir descuidadamente as posses e riqueza de seu guru e das Três Joias causará sua própria infelicidade. É como uma pequena criança que vê uma brasa ardente ao fogo e, atraída pela cor vermelha, agarra-a e coloca-a em sua boca. Significa tomar coisas que são oferecidas para auxiliar professores e a comunidade monástica, e consumi-las por motivo de prazer e luxo.
Estas são as dez coisas pelas quais se causa a própria infelicidade.