A Preciosa Guirlanda 22 – Cap 20 As Dez Coisas Perfeitamente Puras
As dez coisas perfeitamente puras:
- Ter confiança na lei da causalidade constitui o ponto de vista perfeitamente puro dos seres de capacidade inferior.
- Realizar que todos os dharmas, internos e externos, são as quatro uniões[1], constitui o ponto de vista perfeitamente puro dos seres de capacidade intermediária.
- Realizar que o objeto contemplado, aquele que contempla e a realização em si são indiferenciados, constitui o ponto de vista perfeitamente puro dos seres de capacidades superiores.
- Permanecer focalizado sem distração no suporte escolhido constitui a meditação perfeitamente pura dos seres de capacidade inferior.
- Permanecer absorvido na contemplação das quatro uniões constitui a meditação perfeitamente pura dos seres de capacidade intermediária.
- O objeto da meditação, o sujeito que medita e a própria prática sendo indiferenciados; permanecer na não-conceitualização constitui a meditação perfeitamente pura dos seres de capacidades superiores.
- Manter a disciplina de conduta como quem guarda a pupila dos próprios olhos constitui a conduta perfeitamente pura dos seres de capacidade inferior.
- Ter a experiência de todos os fenômenos como sendo ilusão ou sonho constitui a conduta perfeitamente pura dos seres de capacidade intermediária.
- Permanecer no não-agir, em todas as circunstâncias, constitui a conduta perfeitamente pura dos seres de capacidades superiores.
- A diminuição e a pacificação de todas as emoções perturbadoras e do apego ao “eu” constitui o sinal perfeitamente puro de êxito para os seres das três categorias.
[1] “As quarto uniões” são aparência e vacuidade; consciência lúcida e vacuidade; prazer e vacuidade e lucidez e vacuidade
As dez coisas perfeitamente puras – Comentários de Khenpo Karthar Rinpoche
Primeiro, ter confiança no resultado das ações é a visão perfeita para o iniciante. Isto significa, reconhecer que a transgressão leva ao sofrimento e a virtude leva à felicidade.
Segundo, o reconhecimento de que todas as coisas internas e externas são a união da consciência-lúcida (rigpa) e da vacuidade, e a união da aparência e da vacuidade é a visão perfeita para um praticante intermediário. Isso refere-se à visão conectada com a prática do bodhisattvayana.
Terceiro, perceber que o que se vê, o espectador, e a realização em si são indivisíveis ou indiferenciados é a visão perfeita de um praticante avançado ou alguém com capacidades superiores. Isto refere-se principalmente ao nível vajrayana, mas esse (ponto de vista) tipo de percepção também pode estar presente na prática do mahayana, especialmente durante as sessões de meditação.
Quarto, permanecer com uma mente que é intencionalmente dirigida para um objeto de meditação, isto é, permanecer em um estado completo de tranquilidade, é a meditação perfeita para um iniciante.
Quinto, da mesma forma, permanecer em samadhi (absorção meditativa) que é o reconhecimento das quatro unidades, é a meditação perfeita para um praticante intermediário. As quatro unidades são as unidades da aparência e da vacuidade, do som e da vacuidade, da felicidade e da vacuidade, e da consciência-lúcida (rigpa) e da vacuidade.
Sexto, permanecer no estado não conceitual no qual o objeto sobre o qual se medita, o meditador e a prática são reconhecidos como sendo indivisíveis, é a meditação perfeita para alguém de faculdades elevadas ou para os praticantes mais avançados. Essa é a prática suprema de ambas, sutrayana e tantrayana, e é conhecida como a não conceitualização dos três aspectos de qualquer situação.
Sétimo, manter-se aderente ao princípio de causa e efeito das ações com o mesmo cuidado que cuida de seus olhos é a conduta perfeita do iniciante.
Oitavo, conduzir-se com o reconhecimento de que todas as coisas que você experimenta são como um sonho ou uma ilusão mágica, um reconhecimento que surge da prática da meditação, é a conduta perfeita para uma pessoa de faculdades intermediárias ou de um nível intermediário, que é alguém que pratica o caminho do bodhisatva.
Nono, permanecer no “não agir” é a conduta perfeita de um praticante avançado ou alguém de faculdades superiores. Isto significa não ter nenhum conceito do que é agir, do que é o não agir, e assim por diante.
Há duas maneiras de entender esses três conjuntos de três. Às vezes as pessoas os entendem no sentido de que primeiro você pratica o que é apropriado para um iniciante; então, quando você se torna um praticante intermediário, você abandona isso e muda para a maneira de fazer as coisas do praticante intermediário; e quando você se torna um praticante avançado, você abandona isso também. Isso é praticar sequencialmente e exclusivamente os três.
A outra maneira de entender isso é que como um iniciante, você pratica o que é apropriado para um iniciante; então quando você se torna mais avançado, você continua praticando isso, mas acrescenta (a ela) o que é adequado para um praticante intermediário; e quando você se torna um praticante avançado, você continua com essas duas práticas e adiciona-lhes o discernimento de um praticante avançado. A segunda maneira de ver isso é a correta; elas são praticadas sequencialmente, mas não exclusivamente. Em outras palavras, não jogue fora os níveis inferiores quando você avançar para os superiores.
A décima coisa perfeita é a diminuição progressiva e a pacificação de toda fixação em uma existência inerente do “eu” e de toda aflição mental. Esse é o sinal perfeito, correto e genuíno de práticas bem-sucedidas para alguém de qualquer uma das três faculdades – menor, intermediária e maior – ou qualquer um dos três níveis.
Estas são as dez coisas perfeitamente puras.