A Preciosa Guirlanda 26 – Cap 24 As Dez Coisas Superiores
Essas são as dez coisas superiores:
- Um corpo humano dotado com as liberdades e recursos é superior a todos os outros seres sencientes dos seis reinos.
- Uma pessoa dotada com o dharma é superior a todas as pessoas comuns que não tem o dharma.
- Este veículo do significado essencial é superior aos caminhos de todos os outros veículos.
- Um instante de conhecimento oriundo de meditação é superior o todo o conhecimento que surge da escuta e da reflexão.
- Um instante de virtude não-conceitual é superior a todas as virtudes compostas que existem.
- Um instante de samadhi não conceitual é superior a todos os samadhis conceituais que existem.
- Um instante de virtude sem mácula é superior a todas as virtudes maculadas que existem.
- O surgimento de um instante de realização é superior a todas as experiências que surgem na mente.
- Um instante de conduta não conceitual é superior a toda a conduta virtuosa conceitual que existe.
- Estar sem fixação em qualquer coisa é superior a toda a generosidade material que há.
As dez coisas superiores – Comentários de Khenpo Karthar Rinpoche
A seguir estão as dez coisas que são especialmente nobres ou superiores.
Primeiro, entre os seis diferentes tipos de seres sencientes, um ser humano que possui as liberdades e os recursos de uma preciosa existência humana é o mais nobre.
Segundo, entre os seres humanos, a maioria dos quais não tem nenhuma ligação com o dharma, um indivíduo que pratica o dharma é o mais nobre.
Terceiro, entre todos os veículos do Buddhadharma, o veículo essencial último, o verdadeiro significado, o mahamudra, é o mais nobre ou refinado.
Quarto, um instante de sherab ou conhecimento oriundo da meditação é superior a todo o conhecimento que possa surgir da escuta e da contemplação, porque (todo) o objetivo final da escuta e da contemplação é levar à meditação e à realização.
Quinto, um instante de virtude não composta, ou virtude que inclui a não-conceitualidade do daquele que executa, daquele que a recebe e da ação em si, é superior a toda virtude composta, isto é, virtude realizada por eons e eons com o conceito da existência inerente dos três aspectos de uma ação virtuosa (sujeito, objeto e ação).
Sexto, um instante de samadhi não-conceitual é superior a todos os samadhis conceituais que existem. Isso significa que um instante do estágio último de realização, com total ausência de qualquer tipo de fixação, seja qual for, é melhor do que todas as práticas de meditação que utilizam diferentes tipos de objetos e, no contexto do mantra secreto, todas as visualizações de divindades, instrumentos, letras, mantras, e assim por diante.
Sétimo, um instante de virtude sem mácula é superior a todas as virtudes maculadas que existem. Virtude com mácula significa um ato virtuoso realizado com a motivação de alcançar felicidade ou o prazer nesta e em vidas futura, tendo como resultado a maturação desse objetivo. Virtude sem mácula significa a realização da virtude que conduz à realização dos arhats, bodhisattvas e especialmente budas, ou seja, as realizações dos superiores ou aryas, porque não há máculas e nenhuma fonte de deterioração em sua virtude.
Isso está relacionado com o ponto anterior que comparou a virtude composta e a virtude não-composta. Ambas podem ser descritas como causas ou como resultados. Quando as virtudes compostas e não compostas são comparadas como causas, a virtude composta é a virtude com conceitualidade, e a virtude não-composta é a virtude que transcende a fixação conceitual. Quando comparadas como resultados, o resultado para a virtude composta são os prazeres do samsara e para a virtude não-composta a realização da budeidade.
Aqui, comparando a virtude maculada e a sem mácula como causa, a virtude maculada é realizada com a motivação de buscar o próprio prazer e felicidade, e a virtude sem mácula é realizada com a motivação de (realizar/alcançar) a bodhicitta. O resultado no caso da virtude maculada é o prazer do samsara, e no caso da virtude sem mácula é o despertar.
Oitavo, um instante de realização é superior a todas as experiências de meditação que possa haver. As experiências desaparecem e não deixam necessariamente qualquer efeito sobre nós, enquanto um instante de realização muda tudo para sempre.
Nono, um instante de conduta não conceitual é superior a toda a conduta virtuosa concebida conceitualmente que possa haver. Embora a conduta dentro de um quadro conceitual – criação e visualização das imagens do corpo, da palavra e da mente dos Budas, meditação conceitual sobre divindades, recitação de mantras e assim por diante – sejam de grande mérito, um instante de permanência no estado que transcende toda a elaboração é superior.
Finalmente, não ter fixação em coisa alguma é superior a toda a generosidade material que existe. Embora a generosidade material que ainda inclui o conceito incorreto de que existe inerentemente uma pessoa que a pratica a generosidade, e assim por diante, é de imenso mérito, isto não se iguala ao reconhecimento de que não há existência inerente, e a total ausência de fixação que é gerada por este reconhecimento.
Estas são as dez coisas especialmente nobres ou superiores.