A Preciosa Guirlanda 27 – Cap 25 As Dez Coisas as Quais o Que Quer Que Seja Feito é Excelente / Cap 26 As Dez Qualidades do Dharma Genuíno
A seguir estão as dez situações nas quais, não importa o que você faça, é excelente:
- Se um indivíduo cuja mente se voltou para o dharma abandona as atividades, é excelente. Se ele ou ela não as abandona, também é excelente.
- Se um indivíduo que cortou as superimposições na mente medita, é excelente. Se ele ou ela não medita, também é excelente.
- Se um indivíduo que cortou o envolvimento em coisas desejáveis age sem paixão, é excelente. Se ele não agir dessa forma, também é excelente.
- Se um indivíduo que realizou diretamente o dharmata dorme em uma caverna vazia, é excelente. Se ele ou ela lidera uma grande comunidade, também é excelente.
- Se um indivíduo que reconhece aparências como ilusórias vive sozinho em retiro, é excelente. Se ele ou ela vagueia por toda a terra, também é excelente.
- Se um indivíduo que realizou liberdade da mente abandona coisas desejáveis, é excelente. Se ele ou ela participa delas, também é excelente.
- Se um indivíduo dotado com bodhicitta pratica em solitude, é excelente. Se ele ou ela beneficia outros em uma comunidade, também é excelente.
- Se um indivíduo cuja devoção é sem flutuação permanece na presença do seu ou sua guru, é excelente. Se ele ou ela ali não permanece, também é excelente.
- Se, para um indivíduo que ouviu muito e entendeu o significado do que ele ou ela ouviu, surjam siddhis, é excelente. Se obstáculos surgem, também é excelente.
- Se um iogue que atingiu a suprema realização possui sinais de siddhi ordinário, é excelente. Se ele ou ela não os possui, também é excelente.
As dez coisas as quais o que se quer que seja feito é excelente – Comentários de Khenpo Karthar Rinpoche
Primeiro, para aqueles cujas mentes se voltaram totalmente para o dharma, de tal forma que não há pensamento em qualquer outra coisa que não seja dharma, se eles abandonam todas as atividades mundanas e permanecem somente em retiro é excelente; se eles não abandonam todas as atividades mundanas e não permanecem em retiro também é excelente. Porque suas mentes se voltaram totalmente para o dharma, tais pessoas não se tornam vítimas de aflições mentais grosseiras.
Segundo, para aqueles que cortaram todas as concepções equivocadas nas suas próprias mentes, se eles meditam é excelente, se eles não meditam também é excelente. Tais pessoas determinaram que a fonte de todo o sofrimento é a confusão que obscurece a mente, e reconheceram que a natureza da mente, que de outro modo é obscurecida, é o espontaneamente presente dharmakaya.
Terceiro, para aqueles que cortaram totalmente todo apego ou desejo por prazer, se eles adotam uma existência sem paixão, abandonando todos os prazeres mundanos, é excelente; se eles não adotam uma existência sem paixão, mas permanece no meio dos prazeres mundanos, também é excelente, porque eles não têm apego nenhum a tais prazeres.
Quarto, para alguém que realizou diretamente a natureza de todas as coisas, é excelente viver sozinho em uma caverna vazia, e é excelente viver como o líder de uma vasta comunidade.
Quinto, para alguém que reconheceu que todas as aparências são como ilusões mágicas, é excelente permanecer sozinho em um retiro solitário /isolado e é também excelente viajar por aí sem direção por todas as terras.
Sexto, para aqueles que obtiveram completo controle sobre suas próprias mentes e, portanto, não são de nenhum modo afligidos – ou mesmo afetados – por pensamentos e emoções, é excelente se eles abandonam experiências sensoriais prazerosas, e é excelente se eles as desfrutam.
Sétimo, para aqueles que possuem bodhicitta genuína, se eles praticam sozinhos em solitude é excelente, e se eles permanecem no meio de outros, executando o que é benéfico para outros, também é excelente.
Oitavo, para aquele que tem inabalável devoção, tal que não importa o que ocorra, ou quais condições estão presentes ou não presentes, sua devoção pelo seu professor autêntico nunca aumenta ou diminui, mas é sempre muito, muito forte, é excelente se eles vivem como atendentes de seu professor, constantemente na presença dele ou dela; e está bem se eles não o fazem.
Nono, para aqueles que ouviram bastante dharma e efetivamente o entenderam, se sinais de siddhi ou realização surgem em suas práticas é excelente, e se obstáculos surgem também é excelente. Ao entender o significado do dharma, eles não têm nenhuma arrogância se sinais surgem e nenhum medo se obstáculos surgem, porque reconhecem estes dois como ser parte do caminho.
Décimo, para um iogue que atingiu a suprema realização, é excelente se sinais de realização ordinária surgem, e é também excelente se não. Realizações ordinárias são coisas tal como percepção extraordinária, a habilidade de trazer outros sob seu poder, a habilidade de prolongar nossas vidas, a habilidade de nós mesmos nos curarmos de doenças, e assim por diante. Estas habilidades são chamadas “ordinárias” porque podem ocorrer a praticantes no caminho budista, e elas podem ocorrer também a pessoas em todo o mundo que as geram por meio de samadhi natural ou adquirido ou absorção meditativa. Isto é comumente encontrado na Índia, por exemplo. A realização suprema é o reconhecimento que leva ao despertar. Para alguém que tem tal realização, não importa se ele ou ela tem ou não o outro.
Estas são as dez situações nas quais o que quer que alguém faça é excelente.
Capítulo 26 – As Dez Qualidades do Dharma Genuíno
Estas são as dez qualidades do Dharma genuíno:
- O surgimento no mundo das dez virtudes, as seis perfeições, todas as vacuidades, os fatores do despertar, as quatro nobres Verdades, os quatro dhyanas, as quatro absorções sem forma, o amadurecimento e aspectos liberadores do mantra, e assim por diante, são qualidades do dharma genuíno.
- O surgimento no mundo de linhagens respeitosas de monarcas humanos, de brâmanes, de chefes de família, os seis tipos de deuses do reino do desejo (como os quatro grandes reis), os dezessete tipos de deuses do reino da forma, e os quatro tipos de deuses sem forma, são qualidades do dharma genuíno.
- A presença e o surgimento no mundo dos que entraram na corrente, os que retornarão apenas mais uma vez, dos que não retornarão mais, dos arhats, pratyekabuddhas e Budas totalmente oniscientes, é uma qualidade do dharma genuíno.
- O surgimento do benefício espontâneo dos seres sencientes pelos dois corpos formais – a compaixão auto manifestada – até que o samsara seja esvaziado, devido ao poder da bodhicitta e das aspirações, são qualidades do dharma genuíno.
- Uma vez que todos os excelentes meios de sustentar seres sencientes surgem inteiramente através do poder das aspirações dos bodhisattvas, essas são qualidades do dharma genuíno.
- Visto que a felicidade transitória e breve que se experimenta em migrações mais baixas em estados inferiores é devido ao mérito de ações virtuosas, esta é uma qualidade do dharma genuíno.
- Quando a mente de uma pessoa má se transforma em dharma genuíno e ele ou ela se torna uma pessoa sagrada, respeitada por todos, isto é uma qualidade do dharma genuíno.
- Quando alguém que, ao se envolver descuidadamente em transgressões, acumulou as causas para se tornar combustível para os fogos do inferno, transforma sua mente em dharma genuíno e alcança à felicidade dos estados superiores e da liberação, esta é uma qualidade do dharma genuíno.
- O prazer e respeito que todos sentem por alguém que simplesmente tem fé, ou mesmo interesse, inclinação, ou apenas conservam os costumes no dharma, é uma qualidade do dharma genuíno.
- O surgimento de abundantes meios de sustento para aqueles que abandonam todas as posses e, saindo de casa, se tornam desabrigados e se escondem em eremitérios isolados, é uma qualidade do dharma genuíno.
As dez qualidades do Dharma Genuíno – Comentários de Khenpo Karthar Rinpoche
Em seguida vêm as dez qualidades que são as bênçãos do dharma estar presente no mundo.
A primeira delas é uma lista bastante longa. Inclui a proclamação no mundo de coisas como o conceito das dez ações virtuosas[1] a serem praticadas por todos desde o início; o conceito das seis perfeições a serem praticadas por praticantes intermediários; todas as formas de apresentações da vacuidade dos pontos de vista hinayana, mahayana e vajrayana; os conceitos dos trinta e sete fatores do despertar e as quatro nobres verdades; os quatro dhyanas[2] e as quatro absorções sem forma[3], que são comuns e não apenas referentes à tradição budista; e especialmente as iniciações e instruções do vajrayana. A presença de todas estas coisas no mundo é devido às bênçãos do dharma.
Segundo, dentro do reino humano estão posições importantes e grandes, como famílias reais, e dentro da sociedade, como brâmanes, e outras posições poderosas de riqueza. Dentro do reino dos deuses estão os seis reinos dos deuses do desejo, como os quatro grandes reis, os dezessete reinos da forma, os quatro reinos sem forma, e assim por diante. A presença de todos esses estados de felicidade no mundo deve-se ao acúmulo de mérito pelos indivíduos que os vivenciam e, portanto, é dito que é uma qualidade, ou devido às bênçãos do dharma.
Terceiro, a presença no mundo daqueles que alcançaram qualquer um dos quatro níveis do caminho dos ouvintes – dos que entraram na corrente, os que retornarão apenas mais uma vez, dos que não retornarão mais, e arhats; a presença no mundo daqueles que alcançam os níveis dos pratyekabuddhas ou realizadores solitários; e a presença no mundo de budistas oniscientes que aperfeiçoaram o caminho do mahayana, todos surgem por causa das qualidades do dharma.
Em quarto lugar, neste mundo está a realização sem esforço e espontaneamente presente do benefício para os seres sencientes que se manifesta enquanto o samsara não estiver vazio, por meio da exibição natural da compaixão dos Budas na forma dos dois corpos formais. Isso é realizado por meio do poder de sua geração original da intenção de alcançar o supremo despertar, para então estabelecer todos os seres sencientes nesse estado, e sua aspiração durante o caminho para realizar atividades através dos corpos formais que trazem todos os seres sencientes para a felicidade e o despertar. A presença no mundo de toda essa atividade espontânea é devida às qualidades do dharma.
Em quinto lugar, todas as abundantes e excelentes coisas físicas que surgem no mundo para apoiar, ajudar e proteger as vidas dos seres sencientes surgem através do poder das aspirações dos bodhisattvas e, portanto, através das qualidades do dharma. Os bodhisattvas fazem tais aspirações como: “Posso tomar a forma dos quatro elementos, de maneira que cada elemento possa auxiliar e proteger todos os seres sencientes”.
Em sexto lugar, qualquer leve felicidade que se experimenta nos reinos inferiores e nos estados agitados surge do mérito virtuoso acumulado pelos seres nesses estados e, portanto, surge através das qualidades do dharma. O pior dos reinos do inferno é Avici (ou “narme” em tibetano), o oitavo inferno quente, que é um estado de sofrimento ininterrupto. Do ponto de vista de Avici, o sétimo inferno e todos os outros acima dele são ligeiramente melhores, na medida em que há um pouco menos de sofrimento. A razão pela qual há menos sofrimento é que os seres sencientes submetidos a essas experiências têm um pouco mais de virtude e um pouco menos de transgressão em seus contínuos mentais. Visto que é por meio do poder da virtude que há a presença da felicidade relativa, ou menos sofrimento, isso surge através das qualidades do dharma.
Sétimo, quando uma pessoa má volta sua mente para o dharma e se torna uma pessoa genuína e santa, sendo possível ser respeitada por todos, isso é uma indicação das qualidades do dharma.
Em oitavo lugar, quando alguém que se envolveu descuidadamente em atos de transgressão que produz futuro combustível para os fogos do inferno, volta sua mente para o dharma e vem produzir a experiência de reinos mais elevados e para liberação, isso indica as qualidades de dharma.
Em nono lugar, quando alguém meramente tem fé, interesse ou deleite no dharma, ou simplesmente assume a aparência ou se veste de um praticante, e, contudo, só por isso torna-se agradável a todos e objeto de respeito, isso indica as qualidades do dharma.
Finalmente, quando alguém abandona todas as posses e deixa o mundo, vivendo num retiro isolado, e ainda espontaneamente encontra abundancia e excelente sustento, esta é uma qualidade do dharma.
Estas dez coisas são uma breve síntese possíveis das qualidades ilimitadas do dharma.
[1] As dez ações virtuosas estão em oposição às dez ações não virtuosas, a saber: malevolência, cobiça, visões errôneas, palavras ofensivas, maledicência, tagarelice, mentira, matar, roubar e má conduta sexual.
[2] Os quatro dhyanas são quatro níveis de estados meditativos. Eles estão relacionados ao domínio da forma e o apego à sua prática pode conduzir o renascimento no domínio da forma.
[3]As quatro absorções sem forma são estados meditativos mais elevados que estão relacionados aos domínios da não-forma, os mais elevados dos três reinos do samsara (desejo, forma e não forma).