Bodhisatvacharyavatara 23 – Quem são nossos feitores?

 

Ainda mais tolo que aquele que enche com
Excremento um vaso de ouro incrustado de joias,
É aquele que, tendo nascido
Humano, pratica maus atos.
(Nagarjuna – Carta a um Amigo. p.107. Ed. Palas Atena, 1979)

No ensinamento de hoje, vimos os versos 21 a 35 do Capítulo 4: Aplicar a Bodhicitta. (Incentivamos que o capítulo seja lido antes de ouvir os ensinamentos e também depois – clique aqui para acessar o texto).

Mesmo após estarmos cientes da preciosidade de nossa existência humana e da urgência de aproveitarmos essa oportunidade para avançar no caminho da Liberação, ainda assim, estamos sujeitos a atrasos e retrocessos… ainda assim, somos tolerantes com nossos feitores: as oito preocupações mundanas, os cinco objetos dos sentidos e os três tipos de preguiça.

Como nos desvencilharmos desses feitores? Com o desenvolvimento e manutenção da nossa Atenção.

Bons estudos, boas práticas e… Atenção!

[21] Por uma falta de um instante ficamos um ciclo inteiro no inferno Avichi. Diante das más ações acumuladas desde tempos infinitos, como falar de felicidade?

[22] Se ao menos bastasse sofrer as conseqüências deste agir para se livrar dele, mas não, porque enquanto as suportamos continuamos a acumular más ações.

[23] Não há pior loucura ou desatino do que ter encontrado uma ocasião semelhante e não a aproveitar para a prática do bem.

[24] E se depois de o ter compreendido, sucumbo à indolência, por estupidez, condeno-me a mim próprio ao sofrimento no momento da morte.

[25] Por muito tempo o meu corpo arderá no insuportável fogo do inferno; por muito tempo a minha mente rebelde será devorada pelo fogo do remorso. Não há qualquer dúvida: é assim!

[26] Subi, não sei como, a esta terra favorável, tão difícil de alcançar, e não é que, conscientemente, sou reconduzido aos mesmos infernos?

[27] Está visto que perdi o juízo! Não sei que feitiço me cega, quem me transtorna, quem se esconde dentro de mim?!

[28] A cobiça, o ódio e as demais emoções negativas são inimigos sem mãos e sem pés, desprovidos de coragem e inteligência; como é possível que me tenha tornado escravo delas?

[29] Emboscados na minha mente, atacam-me a seu bel-prazer e eu nem sequer me irrito! Basta! Que paciência absurda!

[30] Mesmo que tivesse como inimigos todos os Devas e todos os Asuras, juntos não seriam capazes de me arrastar para o inferno.

[31] Mas as emoções negativas, esses poderosos inimigos, lançam-me, num piscar de olhos, num fogo tal que até o monte Meru derreteria sem deixar a mais pequena cinza.

[32] Nenhum outro inimigo tem uma vida tão longa, como a longa vida, sem princípio nem fim, destas minhas inimigas, as emoções negativas.

[33] O homem paga o bem com o bem; mas as emoções negativas, a quem as serve, apenas lhes reserva a pior das desgraças.

[34] O seu ódio é constante e vivaz, elas são a única fonte da torrente das misérias e vivem na minha mente! Como posso viver em paz?

[35] Guardiãs da prisão da transmigração, carrascos dos seres nos infernos e nos outros lugares de tortura, enquanto forem hóspedes da casa da minha mente, na jaula da minha cobiça, como poderei saborear a alegria?