Bodhisatvacharyavatara 53 – Capítulo 6: A Paciência
Os ensinamentos de hoje foram sobre o texto e os comentários relativos a estrofes selecionadas do Capítulo 6: A Paciência, do livro Bodhisatvacharyavatara – de Shantideva.
- Os dois irmãos mercadores e o reino das pessoas nuas
[87-88] Se uma desgraça acontece ao teu inimigo, por que te regozijas? Por muito negativos que os teus pensamentos sejam, não lhe podem causar qualquer dano e, mesmo que esta desgraça tivesse sido realizada por tua vontade, de que modo poderia ela dar-te felicidade? Se dizes “Como fiquei contente!”, não há melhor maneira de provocares a tua ruína.
[89] É um terrível engodo que as emoções negativas, como pescadores, lançam para te apanharem e venderem aos demônios infernais, que te irão cozer nos seus caldeirões.
[90] Os elogios, as honrarias e a glória nada adiantam ao teu mérito e tampouco à duração da vida, à força, à saúde e ao bem-estar físico.
[91] Que poderá ver nisso um homem conhecedor dos interesses? Agora, se o que busca é o prazer dos sentidos, mais vale dedicar-se à bebida, ao jogo e a tudo isso…
[92] E à glória! O que não se sacrifica à glória! Até os bens e mesmo a vida. Será que as palavras se comem? Será depois de morto que se pode saborear esse prazer?
[93] A minha mente parece uma criança gritando de desespero quando a onda leva o seu castelinho de areia, assim que a minha reputação e glória se arruinam.
[94] O louvor é um som vazio de pensamentos, pelo que não podes dizer que te elogia! É alguém que está contente contigo, dizes que é o seu contentamento que te faz feliz?
[95] Que esse alguém esteja contente comigo ou com quem quer que seja, que tenho eu a ver com essa satisfação? É ele que sente esse prazer, não é nada que eu sinta!
[96] Se me proclamo feliz com o seu contentamento, então deveria ficá-lo em todos os casos. Por que será que a alegria que ele encontra na sua afeição a um outro não me faz sentir qualquer prazer?
[97] Não, a alegria nasce em mim porque é a mim que louvam, e esta conduta é tão incoerente como a de uma criança.
[98] Os elogios arruínam ao mesmo tempo a paz de mente e a renúncia ao mundo, provocam a inveja pelos homens de mérito e devastam as qualidades que se tem.
[99] Por isso, os que se levantam para destruir a minha reputação têm por única função preservar-me dos lugares de tormento.