Bodhisatvacharyavatara 56 – Capítulo 6: A Paciência

 

Os ensinamentos de hoje foram sobre o texto e os comentários até a estrofe 127 do Capítulo 6: A Paciência, do livro Bodhisatvacharyavatara – de Shantideva.

[108] Os dois têm direito ao fruto da paciência, mas que seja ele a recebê-lo primeiro, uma vez que ele é a causa primeira da minha paciência.

[109] “O meu inimigo não tem a intenção de aperfeiçoar a minha paciência, por isso não merece que o honre!” Mas então porque honrar o Dharma, que é uma causa inanimada do teu aperfeiçoamento?

[110] “Mas ele tem em idéia fazer-me mal. Como posso honrar um inimigo?” Mas como poderias praticar a paciência se ele se devotasse ao teu bem, como um médico dedicado?

[111] É a sua hostilidade que condiciona a minha paciência e, sendo sua causa, devo honrá-lo como ao santo Dharma.

[112] O mestre disse: “Assim como os Buddhas, os seres são um campo de mérito”, porque honrando tanto uns como outros, muitos foram os que atingiram a outra margem da perfeição.

[113] É através dos seres, assim como dos Buddhas, que obtemos as virtudes de um Buddha; no entanto, a veneração que devotamos aos Buddhas recusamo-la aos seres. Por que esta distinção?

[114] A grandeza de uma intenção não se mede pela intenção em si, mas pelo seu efeito. Portanto, os seres têm uma grandeza igual à dos Buddhas, vão a par com eles.

[115] A veneração que se tem por um homem bom dá-nos a grandeza desse homem. O mérito que produz a devoção aos Buddhas, dá-nos a grandeza dos Buddhas.

[116] Por essa razão, os seres são semelhantes aos Buddhas, ambos permitem atingir o estado búddhico; mas, na verdade, nenhum ser é comparável aos Buddhas, que são oceanos de qualidades infinitas.

[117] Os Buddhas concentram em si a essência de todas as qualidades. Bastaria que um simples átomo dessa essência se encontrasse nos seres, para que os três mundos inteiros não lhes fizessem suficiente homenagem.

[118. Ora, esta insigne parcela que faz germinar em nós as virtudes de um Buddha, está presente em todos os seres. É por causa desta presença que os seres devem ser reverenciados.

[119] Aliás, para além de agradar aos seres, que outra maneira temos para saldar a imensa dívida para com estes amigos sinceros e benfeitores incomparáveis que são os Buddhas?

[120] Pelos seres, eles dilaceraram o corpo e desceram aos infernos; o que fazemos pelos seres, é por gratidão pelos Buddhas que o fazemos. Por isso, devemos fazer o bem a todos, mesmo aos nossos piores inimigos.

[121] Então, os meus mestres dedicam-se às suas crianças sem reserva e eu, em vez de mostrar uma humildade de servo perante os filhos dos meus mestres, trato-os com orgulho. Como é possível?

[122] Os Buddhas satisfazem-se com a felicidade dos seres; quando os seres sofrem, os Buddhas entristecem-se. Quando satisfazemos os seres, satisfazemos os Buddhas; quando os ofendemos, ofendemos os Buddhas .

[123] Ninguém com o corpo envolto em chamas é capaz de sentir qualquer forma de prazer. Também os compassivos, na presença do sofrimento dos seres, são incapazes de experimentar alegria.

[124] Ao afligir os seres afligi todos os grandes misericordiosos. Hoje mesmo confesso esta falta, para que os Buddhas assim atingidos me perdoem.

[125] A partir de hoje, de mente e coração, tornar-me-ei um servidor do mundo para agradar aos Buddhas. Que a multidão dos seres me arraste a cabeça sob os pés e me mate, mas que o protetor dos seres esteja satisfeito!

[126] Os compassivos adotaram todos os seres como o seu eu, isto não oferece qualquer dúvida! Por esta razão, são os próprios protetores que aparecem com a forma dos seres; como ousamos faltar-lhes ao respeito?

[127] Servir os seres é servir os Buddhas, é realizar a minha finalidade, é eliminar a dor do mundo: tal é o voto ao qual me obrigo.